Somos eminentemente mulheres. No quadro societário somos 2 sócias mulheres para 1 sócio homem. A maioria dos cargos de liderança na empresa são ocupados por mulheres. Somos uma empresa feminina e feminista, com princípios e regras firmes em relação ao respeito a todas as pessoas aqui dentro. Temos tolerância zero para comportamentos misóginos ou machistas; ao mesmo tempo, conduzimos diálogos constantes na empresa para desconstruir padrões machistas estruturais que permeiam nossas ações, independente de sermos mulheres ou mesmo homens antimachistas.
A gente entende que é um baita absurdo, nesse país, o pai de uma criança ter uma licença-paternidade de 5 dias. Na verdade, isso nem deveria ser chamado de licença; é no máximo um atestado. E o problema é bem maior que isso, mas é reforçado por essa “licença” vergonhosa. A gente tem um problema crônico no Brasil, consequência do nosso machismo estrutural, que faz com que o pai (homem) não exerça o seu papel de parentalidade. Cinco milhões de crianças no Brasil não têm sequer o nome do pai no seu registro. E mesmo as crianças que têm o nome do pai no registro, na maioria das vezes, não têm um pai de verdade, um pai ativo, presente, que participe efetivamente do cuidado e da criação delas.
Isso cria um ciclo vicioso. Por um lado, a legislação não garante a criação de vínculo entre pai e filho, pois coloca o pai de volta no trabalho após 5 dias. Por outro lado, o pai brasileiro não supera essa barreira, e não se empenha em fazer o possível – mesmo em condições adversas – para ser um pai presente e ativo.
Esse ciclo perpetua o papel preponderante da MULHER, exclusivamente, na criação das crianças brasileiras, o que tem diversas consequências danosas para todos: A criança não cria vínculo afetivo e de cuidado com o pai, que ajudaria a formar base psicoemocional para o resto da vida; o pai perde a oportunidade de viver a melhor experiência do universo, que é a paternidade ativa; o pai tem mais propensão a se tornar um abusador; e por fim, mas não menos importante, aquela mulher – como acontece com tantas, tantas mulheres brasileiras – interrompe sua carreira e todos os outros sonhos que tem, porque muitas vezes não tem com quem dividir a carga de cuidado da criança. Mesmo quando ela tenta obstinadamente continuar com a sua carreira e sonhos, ela encontra muito mais dificuldades e frequentemente fracassa, já que ela se torna uma funcionária “mais cara” e “mais problemática”, para os seus empregadores, do que os homens.
A própria licença maternidade no Brasil já é um grande problema. O Estado garante 4 meses, sendo que às vezes a mãe precisa parar de trabalhar antes do nascimento e – pior – a própria recomendação de saúde da Organização Mundial de Saúde é que o bebê tenha amamentação exclusiva até os seis meses de idade. Essa conta não fecha!
O resultado de todos esses ingredientes? Famílias que já começam desestruturadas, sem a base afetiva que deveriam ter, sem a cumplicidade e compartilhamento do cuidado, sem paternidade ativa, e sem a criança gozar da saúde e desenvolvimento adequados (porque a criança inicia a introdução alimentar antes do que deveria).
Existe um programa instituído pelo Estado brasileiro que se chama “Empresa Cidadã” e que, teoricamente, possibilita que empresas façam uma licença maternidade estendida (de 4 para 6 meses) e aquela licença-paternidade-vergonhosa também estendida (de 5 para 20 dias). Porém, infelizmente, esse programa somente está disponível para empresas grandes, que estão enquadradas nos regimes de Lucro Real ou Lucro Presumido. Empresas pequenas ou médias, como a nossa, enquadradas no regime Simples Nacional, não podem aderir.